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quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Cabeça de cavalo


Cabeça de cavalo


Cabeça de cavalo em corpo de homem.
Anomalia urbana, aberração rural
Procura chifres em sua própria cabeça
Mas encontra apenas duas orelhas de burro.
Com algumas moedas no bolso
Almeja comprar tesouros no céu
E como um ágil macaco
Dependura-se onde pode
Com aspectos de um persuasivo papagaio,
Possui a arte da imitação.
Vive de sobras e restos
Migalhas, retalhos do que sobrou
E já ninguém quer mais.
Tem fome de terra
E de lixo molhado.
Vive na urina, na podridão
Na podridão do osso podre.
Os pássaros lhe zombam
Os pombos são os mais atrozes
Jogam a chacota em cima de sua cabeça.
Os vermes o ironizam
E cobram-lhe impostos.
Os macacos lhe jogam suas fezes
E riem-se fartos de sarcasmo e bazófia
Cães desdentados e derformados
Lhe mordem com meias dentadas
De fiapos de dentes precários
E lhe urinam um mijo emfebrado e amarelo.
A noite quando dorme
Baratas entram em suas largas narinas
E levam o alimento para sua prole.
Os ratos contentam-se
Em roer-lhe as unhas encavaladas.
Pela manhã calorosa
Moscas varejeiras, pulgas gordas de sangue alheio
E insetos pestilentos lhe humilham
Um banquete de misérias no café da manhã.
Cabeça de cavalo acorda com frio
Em suas orelhas de burro.
Não adiante tentar espantar
A malevolência dos bichos está nele mesmo.
Ao pensar a animalia
Come a ração diária do erro e renega o basto.

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