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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Por que te amo (Para Kelly Sokoloski)

Por que te amo vou fundo no poço
No fundo de um poço de um poço.
Por que te amo nunca é tarde demais
E minha vida nunca dorme,
É uma vida dessas que não dorme jamais.
E desde o tempo em que você era uma estrela
O admirável mito do amor me rondava
E me fazia torcer o pescoço para o céu.
Por que te amo não existe tempo feio
Sol, chuva, tempestade, garoa e solidão
E só a lua é testemunha.
Por que te amo nunca mais vou morrer
Tornei-me eterno sem querer,
Mas no fundo querendo,
Te amar me colocou na posição de imortalidade.
Por que te amo não tenho medo de perder
E aposto tudo no jogo da vida.
Não acredito na sorte
Não tenho medo da morte
Apenas desconfio do acaso
Esse anjo caído sem asas bêbado e maroto.
Por que te amo sou um forasteiro
E para forasteiros não existem leis
A não ser a lei do amor, a lei do sangue.
E roubar seu coração ainda é muito pouco
É preciso mais, é preciso
É preciso roubar seu corpo e todas as estrelas para ti.
Por que te amo sou um poeta maldito
Que escreve poemas sujos e obscenos
Afirmo a embriaguez como condição primeira
Para se chegar ao êxtase do amor da mulher amada
Um poeta maldito,
Que se apaixona todo dia pela mesma mulher.
Por que te amo intensificou-se a intensidade em mim
E intenso torna-se o amor ao amar-te
Conjugo a intensidade, sobretudo no amor
E por que te amo sou uma síntese de tudo
De tudo que existe, já existiu e ainda pode existir
Teu amor me transformou num ser atemporal.
Dionisíaco e báquico saúdo Eros na civilização.
Por que te amo sou o Universo em transformação
E transformo todo o meu amor em vinho, leite e mel
E o devolvo para sua boca e seu coração.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Henry Claude Stelmarsczuk - Mais que uma invenção



MAIS QUE UMA INVENÇÃO

Há boatos (veementes) que defendem que Henry Claude Stelmarsczuk existe. Mas talvez não se possa crer muito nisso. A data de 25 de agosto de 1985 em um registro civil pode ter sido forjada por alguém, quiçá pelo responsável pelo cartório, que poderia ter uma grande necessidade de ser outro, de ter um heterônimo para escrever sua poesia. Seja como for, existindo ou não, Henry Claude é um poeta maldito. E poeta no sentido pleno da palavra: é alguém que poetiza a todo instante, fazendo com que sua poesia maior se situe em sua vida (ou não-vida), para além, muito além de seus livros.
Há dois anos lançou Niilismo dos Símbolos, um cântico soturno sobre os labirintos do seu próprio espírito. Com Aforismos de Cordélia o poeta se afasta um pouco de si, e se coloca à disposição de um caminho de insanidades, mas também de muito amor.
Com influência simbolista, notadamente Cruz e Souza e Baudelaire, e, sobretudo, com forte influência de Drummond, Henry Claude vem traçando uma rota isolada, como que um largo caminho aberto, à margem de todos os caminhos, como que uma estrada desprovida de contatos com estradas que não sejam aquelas que partem de seu próprio coração.
Sua poesia é mais que um desabafo – é um descaminho, um desconcerto. Ouçamos com atenção o que o poeta tem a nos falar. Ele ouviu seu coração, e só aqueles que conseguem este feito merecem ouvidos abertos e francos. E isto considerando, talvez possamos dizer que os boatos se confirmam: Henry Claude existe mesmo. Não é apenas uma invenção.

Por Maygon André Molinari

PS: Fotografado bebendo catuaba com rosa do amor num desses sarais literários...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Moto chopper e custom parts

O estilo chopper vem de longa data no meio motociclístico. De acordo com alguns estudiosos e curiosos do assunto, ele começou a ser difundido de uma necessidade básica de alguns “motoqueiros”. Durante a 2ª grande guerra, a montadora americana Harley Davidson, forneceu containers de motos, produzidas especialmente para este fim. Foi a época que a Harley mais produziu em série e por ser a 1ª moto que se tem notícia, ela eternizou-se como a marca e o modelo mais conhecido mundialmente.
Depois que terminou a guerra, estas motos ficaram por muito tempo estocadas como material do “pós-guerra” e acabaram sendo vendidas ou leiloadas como artefatos sem utilidade. Os soldados que agora tornaram-se civis e voltaram para a normalidade de suas vidas, começaram a sentir-se muito entediados, já que não sentiam mais a vida por um tris como na guerra, e não estavam mais acostumados a vida de casa, mulher e filhos, faltava a adrenalina, faltava a eminência do ataque, faltava o risco e junto com ele o perigo. Então estes mesmos compraram estas motos em leilão, para se sentirem menos entediados com suas vidas de civis que agora levavam. Elas eram pesadas e vinham com muitos acessórios, caixas e dispositivos para se levar ferramentas e munições e eram usadas como meio acessível de transporte nos campos de batalha e acampamentos. Como estes acessórios deixavam as motos pesadas, estes ex-soldados começaram a cortar todos os excessos. Dai vem o nome chopper: cortar. Deixavam apenas os básico, muitas não possuíam nem paralamas dianteiro e nem freio dianteiro, roda livre. Em suma, sem os excessos a moto rodava livre e ganhava mais velocidade, um bom exemplo é a moto usada por Peter Fonda em Easy Rider (Sem Destino) de 1968, a moto do Capitão América. Este filme também serviu para difundir o estilo chopper.
Atualmente o espírito chopper ainda vive, presente em pequenas mas expressivas oficinas, as vezes improvisadas na garagem de alguma casa, pois este espírito é cigano e ele anda. Mecânicos e simpatizantes constroem verdadeiras obras de arte em cima de duas rodas. Como é o caso de um pessoal de Imbituva que está surpreendendo e ganhando a cena underground. Encabeçados pelo mecânico Junior que tive o prazer de conhecer pessoalmente e trocar algumas ideias a respeito do assunto e inclusive “encomendar” a execução de um projeto chopper rat bike, que já há algum tempo descolei este projeto mas ainda não tinha achado gente competente e que tenha o espírito chopper para concretizá-lo. O custom parts Junior com certeza foi o precursor do 1º chopper que rodou em terras imbituvenses... o cara que foi o criador da criatura de outro planeta!!! Este mecânico é um verdadeiro artesão, ele parte do zero, adapta em cima de qualquer projeto, cria, inventa, improvisa, corta, aumenta, diminui, enverga, estende, lembra um músico de jazz, sempre improvisando arranjos ao vivo e a cores. E quem faz o que gosta, sempre faz bem feito, tem o talento e o dom, um verdadeiro artesão que modela metais pesados, forjando formas distorcidas que viram verdadeiras obras de arte. Junior com certeza tem o que muitos chamam por ai de espírito chopper.
Na foto abaixo uma Harley usada na 2ª guerra mundial e todos os dispositivos que ela possuía para o transporte de material bélico, logo abaixo as criações de Junior no mais ousado estilo chopper, Another Planet (laranja) e a Las Vegas (azul).





quarta-feira, 4 de maio de 2011

Trópico de Câncer, de Henry Miller



Já está nas livrarias uma nova versão de Trópico de Câncer, de Henry Miller, traduzido por Jorge Freire. A reedição pela Bertrand desta narrativa autobiográfica, passada na Paris dos anos 30, inaugura a colecção 'Obras Literárias Escolhidas' lançada por esta editora.
Esse livro tardou em ser publicado nos Estados Unidos. Veio a público em Paris no ano de 1934 e só em 1961 chegaria às estantes americanas.
Jorge Freire considera "a criação, o tempo e a morte, a abolição da diferença entre o mundo das ideias e a experiência vivida e a quebra voluntária dos tabus" temas centrais de Trópico de Câncer.
De acordo com o tradutor, o prazer e o desejo, a que o escritor chama "milagres da personalidade", são "afirmação da verdade, da literatura, da vida e do individualismo".
Relato autobiográfico, Trópico de Câncer leva-nos pela Paris de entre-guerras vista e vivida por um Henry emigrado que deixara para trás Nova Iorque e fora para Paris em busca de um sonho: escrever. A fome, o sexo, o álcool, os biscates, a loucura, o delírio atravessam as páginas desse romance sobre o qual caiu o libelo de pornográfico e obsceno.

Henry Miller



"Suponhamos que amanhã, como consequência de terem lido Henry Miller, todas as pessoas começavam a usar uma linguagem livre, uma linguagem de sarjeta, se quiserem, e a agir de acordo com as suas crenças e convicções. E então ? A minha resposta é que, acontecesse o que acontecesse, seria como nada tivesse ocorrido, nada, insisto, se o compararmos com os efeitos da explosão de uma única bomba atómica. E isto é, confesso, a coisa mais triste que um indivíduo criador como eu pode admitir.
É minha convicção que estamos hoje a atravessar um período a que se poderia chamar de "insensibilidade cósmica", um período em que Deus parece, mais do que nunca, ausente do mundo, e o homem se vê condenado a enfrentar o destino que para si próprio criou. Num momento como este, a questão de saber se um homem é ou não culpado de usar de uma linguagem obscena em livros impressos parece-me perfeitamente inconsequente. É quase como se eu, ao atravessar um prado, descobrisse uma erva coberta de esterco e, curvando-me para a ervilha obscura, lhe dissesse em tom de admoestação: "Que vergonha!"

UMA HISTÓRIA DE DOIS HENRYS



A história que vou contar é bem conhecida, mas eu gosto muito dela, e por isso não resisto à tentação de contá-la, já que é a história do automóvel, tão presente em nossas vidas e na nossa pós-modernidade

Henry Ford deixou de ser um mero inventor para se tornar um homem de negócios quando, com ajuda de um grupo de investidores de Detroit liderados por William Murphy, fundou a Detroit Automobile Company, a 5 de agosto de 1899, 110 anos atrás.

Mas Ford ainda não havia conseguido aperfeiçoar sua ideia de automóvel, aquela que ia desabrochar no modelo T e fazê-lo o mais importante industrial do século. Naqueles tempos em que a tecnologia desta nova máquina ainda não era dominada, acabou por falhar em criar algo que pudesse ser produzido e vendido com lucro, e a empresa logo acabou. Ford de certa forma ainda tinha muito a descobrir.

A próxima tentativa veio com a Henry Ford Company, incorporada no fim de 1901. De algum jeito, Henry conseguiu que William Murphy investisse novamente a maior parte do dinheiro necessário, mesmo depois de perder bastante com o fracasso anterior.

Mas Henry ainda não estava pronto para ser um industrial; tinha àquela época descoberto as competições automobilísticas. Em busca de mais conhecimento sobre o animal automóvel, de glória e publicidade, e de dinheiro, Henry devotava a maior parte de seu tempo a um monstro cuspidor de óleo, um carro de corrida que atendia pelo nome de “999”, que traria a ele tudo isso, menos a parte do dinheiro...

Logo, Murphy estava possesso com a incapacidade de Ford de criar um carro vendável. Foi aí que ele teve uma ideia sem nenhuma possibilidade de sucesso: Achou que podia contratar um chefe para Henry Ford.

Entra em cena Henry Leland (foto no fim deste post), um dos diretores da Leland & Faulconer, uma oficina de usinagem famosa em Detroit. Leland fora treinado na fábrica da Colt (o lendário Springfield Armory), e era famoso pela elegância, precisão e durabilidade de suas peças usinadas. Àquela época, a L&F ficara conhecida por produzir excelentes motores para os Oldsmobile de Ranson Eli Olds. Em visita à fábrica de Ford, pintou um quadro aterrador de fracasso iminente para Murphy, e acabou sendo contratado como supervisor geral da Henry Ford Company.

Henry não durou muito ali; logo em seguida abandonou a empresa, e com ele foi-se o nome da companhia. Alguns dizem que ele foi demitido; outros, que pediu demissão; o que sabemos com certeza é que Ford não saiu contente. Murphy reorganizou-a com Leland como líder, e adotou um nome que todos conhecemos: Cadillac Automobile Company.

Cadillac era o sobrenome do fundador da cidade de Detroit, um nobre francês chamado Antoine de La Mothe Cadillac. Sob a batuta de Leland, a Cadillac ficaria famosa por iniciar a intercambiabilidade de peças, e seria comprada pela jovem General Motors em 1909, para ser a sua marca de prestígio e de luxo. Leland é reconhecido hoje como um dos maiores pioneiros do automóvel, e sua contribuição em técnicas de usinagem, precisão e tolerâncias é absolutamente inestimável.

Todos sabemos o que aconteceu com Ford: sua nova companhia (a terceira), Ford Motor Company lançou o modelo T em 1908, e em 10 anos ele era um dos homens mais ricos e poderosos do planeta.

Alguns anos depois da compra da Cadillac pela GM, em 1917, Leland e Murphy criam uma nova companhia: a Lincoln Motor Company, com a intenção de competir com a sua antiga empresa, com carros de alta qualidade.

Alguns anos depois, com a empresa em concordata, a Lincoln acaba por ser comprada por quem? Henry Ford. Em menos de um mês, Henry Leland estava desempregado.

Ford jurava de pé junto que fora uma lógica decisão empresarial, mas todos sabemos que, afinal de contas, o velho Henry conseguira, finalmente, sua vingança.