Cabeça
de cavalo
Cabeça
de cavalo em corpo de homem.
Anomalia
urbana, aberração rural
Procura
chifres em sua própria cabeça
Mas
encontra apenas duas orelhas de burro.
Com
algumas moedas no bolso
Almeja
comprar tesouros no céu
E
como um ágil macaco
Dependura-se
onde pode
Com
aspectos de um persuasivo papagaio,
Possui
a arte da imitação.
Vive
de sobras e restos
Migalhas,
retalhos do que sobrou
E
já ninguém quer mais.
Tem
fome de terra
E
de lixo molhado.
Vive
na urina, na podridão
Na
podridão do osso podre.
Os
pássaros lhe zombam
Os
pombos são os mais atrozes
Jogam
a chacota em cima de sua cabeça.
Os
vermes o ironizam
E
cobram-lhe impostos.
Os
macacos lhe jogam suas fezes
E
riem-se fartos de sarcasmo e bazófia
Cães
desdentados e derformados
Lhe
mordem com meias dentadas
De
fiapos de dentes precários
E
lhe urinam um mijo emfebrado e amarelo.
A
noite quando dorme
Baratas
entram em suas largas narinas
E
levam o alimento para sua prole.
Os
ratos contentam-se
Em
roer-lhe as unhas encavaladas.
Pela
manhã calorosa
Moscas
varejeiras, pulgas gordas de sangue alheio
E
insetos pestilentos lhe humilham
Um
banquete de misérias no café da manhã.
Cabeça
de cavalo acorda com frio
Em
suas orelhas de burro.
Não
adiante tentar espantar
A
malevolência dos bichos está nele mesmo.
Ao
pensar a animalia
Come
a ração diária do erro e renega o basto.