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terça-feira, 26 de abril de 2011

Rock numa cidade tao pequena e tao ingenua

O que acontece no cenário local iratiense é que não temos um espaço destinado as artes em geral. O anfiteatro Denise Stoklos está com as obras embargadas e nem sabemos porquê. Nossa cidade tem inúmeras expressões artísticas “engavetadas” e que não tem oportunidade e nem lugar de se apresentar, as oportunidades são raras e quando muitas vezes procuramos participar, já estão encerradas as inscrições e nem sabemos, por falta de divulgação.
No caso de bandas rock, que é um gênero não tão comum na cidade que possui tantas influências do tradicionalismo gaúcho e sertanejo, existe um público que aos poucos vem se mostrando favorável a sua divulgação e também criação, já que o rock é um tipo de música que se renova com cada geração, e que foi muito usado na própria história como veículo de protesto, contestação e revolução. Basta olhar a história e ver como tudo aconteceu com figuras que viraram lendas, como Bill Halley e seus Cometas, Elvis Presley, Jerry Lee Lews, Richt Valens e outros. Aqui no Brasil tivemos muitos revolucionários que numa época de autoritarismo e imprensa censurada foram os porta- vozes da juventude e de suas necessidades e direitos, entre eles Raul Seixas, Legião Urbana, RPM, Engenheiros do Havaí, Plebe Rude e muitos outros. Historicamente falando, o rock sempre foi música de protesto e revolta, um hino da insatisfação social e pessoal, música de transformação de mentalidades e atos e também de muito preconceito. Mas o preconceito existe em todas as esferas, e ainda mais no que concerne as artes. O senso comum, já de ante-mão, julga, sentencia e condena, e com isso reprime toda e qualquer manifestação de criatividade e liberdade.
Mas estamos no século XXI e a pluralidade cultural vem sendo enfatizada nos discursos de líderes políticos. O preconceito já virou crime, mas ainda é exercido e cultivado no seio de nossa sociedade, seja a classe qual ela for. O preconceito se manifesta de maneiras evidentes. Não digo que em Irati não existem lugares para se apresentar devido ao preconceito com o estilo, mas que ele influência, isto é fato.
Em Irati existem ótimas banda de rock cover's. Tocam tão bem quanto os originais, mas se esquecem que estão apenas repetindo algo que já existe, apenas reproduzindo. Mas existem outras que vem se distinguindo, pois mantém o propósito de revolução, mudança e contestação, que sempre foi a missão do rock. Em suas letras, acordes e riffs, abordam coisas de nossa realidade e de nossa cidade, e deixam para os ouvintes sua mensagem, seu pensamento e sua filosofia, usam o rock para fazer política, justiça e lutar por um mundo melhor. Assim como é o lema do Rock in Rio que este ano terá sua terceira edição na cidade do Rio de Janeiro, em setembro: Rock in Rio, por um mundo melhor.
Entre estas posso citar duas que conheço e uma que faço parte: Escultores de Alento, Sem Sistema e Trapus de Luxo da qual faço parte e sou fundador. As três bandas tem tendências e estilos diferentes dentro do mesmo gênero. Pelo que conheço e ouço posso tentar descrever Escultores de Alento que possuem um rock melódico e incisivo, abordando questões de humanidade em suas letras, valores indispensáveis e essenciais, que faltam na maior parte da sociedade. Levam uma mensagem de luta e esperança, dando consolo aos que padecem, fazendo com que todos acreditem em um novo amanhã, que este amanhã não é utopia, mas que está em nossas mãos. Já a banda Sem Sistema, o nome já define, sem sistema. Lembrando a velha temática punk, de que o maior causador de doenças e destruidor de sonhos é o Sistema. Aquele que nos escraviza e nos tira todo prazer e alegria da vida, o grande odiado. Um som vigoroso sem muitas firulas, dizendo o que todos querem e dizer e ouvir, mas que não possuem coragem para tal. Já quanto aos Trapus de Luxo, eu como fundador, e compositor, posso dizer que é uma viagem pela selvageria que somente o rock e seus subgêneros são capazes de despertar, quando ouvidos em alto e bom som. É assim que posso definir o demo da banda Trapus de Luxo (in concert) do interior de Irati, Paraná. Formada há 3 anos, por Henry Claude Stelmarsczuk (guitarra, vocal e composição), Rodrigo Stelmarsczuk (bateria) e Márcio Duda (baixo), lançam neste mês o cd demo ” Na hora do coito”, que alia atitude e bom humor, em suas letras. Vide o nome que leva o álbum. A partir do nome da banda, título do disco, capa e contra-capa, podemos ter uma leve impressão do conteúdo.
Aparentemente para o ouvinte comum, apenas mais um disco de rock seguindo a lendária tríade de sexo, drogas e rock’n’roll. Mas os Trapus vão mais além. Variam do bom hard rock (No bar), para explodir sem advertir e inesperadamente na próxima faixa num violento punk rock alá Titãs anos 80 (Acenda a luz, apague a luz). Sem contar os temas históricos da humanidade que sempre surgem como polêmica, como a Inquisição, a guerra, a Igreja e o satanismo, abordados na faixa “Conventos, Mosteiros e Sacristias”.
Destaque para a primeira faixa, um hard rock que é um pesadelo, recomendado para se ouvir em almoços e jantares onde toda a família está presente. Com acordes incisivos, tribais, secos e repetitivos, crispações incômodas que explodem em um refrão em forma de orgasmo, lembrando o ato do coito. Termo usado no período do Brasil Colônia para denominar com mais pudor o ato sexual, (diga-se de passagem, que todos os integrantes da banda são formados em história). Ela é uma homenagem informal a todas as cortesãs do Brasil, tão importantes na disseminação de bordéis, e muitas vezes fundamentais na vida de alguns homens na história”.
Assim ouvindo o álbum, podemos ter um vaga noção de onde derivam suas músicas, a princípio elas provém da experiência, extrínseca e intrínseca, nua e crua, estas seriam as responsáveis pelo ato criador, somando-se ao conhecimento histórico de práxis e o principal, a vontade de fazer um rock sem frescura.
Enfim, tenho muito mais a dizer, mas o espaço é limitado. Mas saliento, Escultores de Alento, Sem Sistema e Trapus de Luxo arrebatam como poucos da atualidade e das redondezas. Eles fogem do lugar comum, são sátiros, irônicos, criativos, selvagens e incisivos. Ou você sente ódio ou amor, jamais indiferença ao ouvir. Citando Guns’n’Roses, “destruir para construir”, quebrar as antigas e as novas tábuas que estão escritas pela metade, como diz o irreverente e irrequieto Raul Seixas, “eu uso o rock para dizer o que eu penso”. E eu penso como a maioria dos jovens de Irati e da região que encontro nas ruas, colégios e eventos, precisamos de mais espaço para a nossa cultura, para nossa arte para o nosso rock'n'roll, precisamos de mais espaço para a nossa liberdade.

Por Henry Claude Stelmarsczuk

3 comentários:

Luciana A.Schlei disse...

oh,henry concordo totalmente,Irati precisa de mais palco,mais oportunidades,temos muitas bandas boas,assim como escritores,entre outros,irati eh uma cidade que amo morar ,mas porem porque nao fazer uma festa artistica nos finais de semana?
O tatro denise estokolos fica um pouco longe pra que mora em bairros,ou morros,etc...
creio que muitos poucos freqüentaram o local.

HENRY CLAUDE STELMARSCZUK disse...

Olá Angel!!!
Como vai a garota mais punk-rocker de Irati??? Curti o novo visual, muito loka, parece uma grouppie...
Irati tem muitas manifestações culturais, mas não tem onde manifestar... é muita estrela pra pouca constelação... e quem lida com alguma arte fica em sigilo, fica na obscuridade, muita pouca gente conhece, e isso contribui negativamente para a resignação de uma grande teia de artistas que na informalidade nunca vãi ser reconhecida e nunca vão poder deixar seu legado que legitima a vida para o mundo...o dia que eu puder, montarei um centro cultural que ficará aberto 24 hrs, diferente do teatro da Stoklos, que sabe-se lá Deus quando aquilo vai ficar pronto e a dúvida mais crucial, se ele vai ser aberto para nós!!!

Luciana A.Schlei disse...
Este comentário foi removido pelo autor.