Via a lua crescer no tão próximo horizonte do tempo,
Crescer com todo o vigor de tua sempre juventude.
Vi ela, então, cruzar todo o firmamento
Espraiando sua nívea luz de remissão e remorsos,
Para morrer nirvanizada noutro extremo do mundo.
Acompanhei as mudanças de estações nos trópicos.
Vi as flores e folhas caírem sem nada explicar,
Pessoas usando camisas-de-flanela,
E o vento aos poucos, varrendo ruas desertas.
Então vi e senti um frio de dez invernos,
A estação austera fez-se hóspede em meus dias.
Os vegetais e plantas sendo queimados pelo gelo,
O gado e os animais buscando refugio nas arvores mais robustas
As mesmas ruas desertas, agora mais gélidas e mais solitárias
Os seixos singrando dores, no orvalho da madrugada fria de ausências.
Suportei o silencio e a conformação
No vazio de uma casa vazia,
Sem televisão, ou qualquer outro meio de comunicação entre os vivos.
Suportei às duras custas, o tédio, a grande solidão com mágoa
E a própria loucura,
Numa das estações mais homicidas.
Com a mais vigilante serenidade,
Esperei os pássaros migrarem ao seu lugar de origem,
Esperei a natureza se cobrir com seu manto-veludo de cores e aromas,
Vi a vida se renovar dentro e fora de mim.
Os velhos sorrirem e as crianças correrem.
Vi a terra ser preparada para o plantio,
Borboletas, libélulas, pirilampos e o pólen sendo fecundado em pleno ar.
Vi o astro-rei com brilho de ouro
Dourar cabelos, trigais e festas,
Aquecer andarilhos e secar as roupas que quaravam no quintal.
Vi as fontes e riachos transbordarem as águas que guardavam,
Tal como uma mãe acumula leite em seu seio para o fruto de seu ventre.
Vi a semente germinar, as crianças crescerem
E uma jovem dançar descalça ao crepúsculo,
Com um sonho em seu coração.
Vi as mudanças de estações nos trópicos,
Vi muitas outras coisas também,
Apenas você que eu não vi mais.
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