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sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Nada de surpresas

Nada mais me surpreende;
Nem o frio mais gélido da estação
Mais austera, solitária e alcoólica a me trincar os ossos,
Nem o calor mais ígneo
Da bola de fogo em pleno meio-dia do deserto.
Nada mais me surpreende;
Nem a mais avançada, das mais avançadas das tecnologias
Nem os causos nostálgicos de algum velho lavrador
Com sua enxada.
Nada mais me surpreende;
Nem o mais novo sabor de sorvete
Nem o mais caro e nobre vinho.
Nada mais me surpreende;
Nenhuma ação política
Nenhum levante popular.
Nada mais me surpreende;
Nem as causas perdidas
Nem as causas impossíveis.
Nada mais me surpreende;
Nenhuma segunda intenção
Nenhuma oferta tentadora.
Nada mais me surpreende;
Nem se o Amor da mais linda jovem
Por um simples camponês acabe,
Como se nunca tivesse existido.
Nada mais me surpreende;
Que o dinheiro compre à tudo
E à tudo coloque um preço.
Nada mais me surpreende;
Nem a mentira mais dissimulada
Nem a mais pura e santa verdade.
Nada mais me surpreende;
Nem o modelo de carro mais potente e mais veloz
Nem o chinelo amarrado com barbante.
Nada mais me surpreende;
Nem o título mais excelso que um cidadão possa ostentar
Nem o analfabetismo de um retirante.
Nada mais me surpreende;
Nem a mais opulenta falcatrua
Nem a obra mais digna de louvor.
Nada mais me surpreende;
Nem a escuridão
Nem a clarividência.
Nada mais me surpreende;
Nem a falta de vida
Nem a eminência da morte.
Nada mais me surpreende;
Nem o grito rouco em pleno dia
Nem o silêncio grave e profundo na noite absoluta.
Infelizmente, nada nem ninguém
Nem o bem, nem o mal,
Nem o amor, nem o desprezo,
Nem o ouro, nem o sangue,
Nem o vinho, nem o vinagre
Pode me surpreender,
Pois, nada mais me surpreende.

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