Tudo lhe zomba e lhe impôe condições
Amarrado, não pode nem mandar uma mensagem numa garrafa.
Esta a mercê de outrem, que nem sabe quem o é...
A beira da falésia, prostra-se
Escravo de um escravo
Numa pátria de liberdade nenhuma
De escravidão voluntária
E novos tratados de opressão são aprovados
E reformulados a toda hora.
Escravo de um escravo.
Escravo do céu e da terra
Grito calado e omisso.
Submisso, a leis, decretos, normas
Sinetas, horários, homens, crianças, velhos e jovens
Obediente a animais, plantas e qualquer matéria inanimada.
Escravo de um escravo.
Escravo de seus dentes e de seu corpo
Não pode deitar, não pode dormir,
Não pode andar, nem cuspir
Muito menos fumar ou beber.
Escravo de um escravo
Não tem nada
Mas é escravo de tudo.
Não tem nem a si mesmo,
E não tem o direito
De não poder querer não possuir.
Nem o direito de não querer não tem.
Lhe é proibido viver,
E também ao mesmo tempo proibido morrer.
Escravo de um escravo.